A América Latina enfrenta um choque inflacionário após o outro
15 de abril de 2022
Depois de oscilar por anos ao redor da meta, a inflação nas maiores economias da América Latina está no nível mais elevado em 15 anos, tendo sofrido dois grandes choques: o impacto da pandemia e a guerra entre Rússia e Ucrânia.
Em 2021, a inflação acelerou no Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru – o AL-5 – assim como em outras economias avançadas e em mercados emergentes. A alta da inflação foi determinada inicialmente pela disparada dos preços dos alimentos e da energia, mas se tornou mais ampla, refletindo a inércia da política monetária e práticas de indexação salarial (contratos com cláusulas de ajuste automático com base na inflação), bem como uma forte recuperação na demanda, inicialmente por bens, mas, posteriormente, também por serviços.
A guerra na Ucrânia é outro choque inflacionário para a região. Nossas estimativas sugerem que um aumento de 10 pontos percentuais nos preços globais do petróleo levaria a um aumento de 0,2 pontos percentuais na inflação no AL-5, enquanto um aumento de 10 pontos percentuais nos preços globais dos alimentos resultaria em uma alta de 0,9 pontos percentuais na inflação. Um choque combinado de 10 pontos percentuais nos preços do petróleo e dos alimentos elevaria a inflação em 1,1 pontos percentuais.
As pressões inflacionárias exacerbadas pela guerra podem persistir devido à indexação salarial e aos primeiros sinais de aquecimento no mercado de trabalho em alguns países.
Além do impacto macroeconômico, a alta atual da inflação é regressiva, com as famílias de baixa renda sofrendo um aumento mais acentuado no custo de vida. Para uma região com níveis de desigualdade historicamente elevados, a erosão da renda real devido à disparada dos preços dos alimentos e da energia irá agravar ainda mais as dificuldades econômicas enfrentadas pelas famílias vulneráveis. E, como apresentado em nosso relatório Perspectivas Econômicas: As Américas de outubro de 2021, as famílias de baixa renda já haviam sido as mais afetadas pelas consequências econômicas da pandemia.
Determinantes da inflação
Os fatores globais, especificamente os aumentos nos preços das commodities e das importações, foram os principais determinantes da inflação em 2021. Nossa análise sugere que eles desempenham um papel mais importante na região do que nas economias avançadas.
Fatores internos também contribuíram. Embora muitas vezes tais fatores sejam específicos a cada país, existem alguns associados à pandemia que são comuns às nações da região. Da mesma forma que em algumas economias avançadas, como os Estados Unidos, no AL-5 eles parecem estar relacionados à recuperação no consumo privado observada em 2021.
O estímulo fiscal e outras medidas de apoio impulsionaram a demanda por bens na maioria dos países do AL-5 nos meses iniciais da pandemia, e o núcleo da inflação de bens acompanhou esse movimento. O aumento da demanda por serviços, sustentado pela retirada das restrições à mobilidade, fez com que a inflação passasse a ter uma base mais ampla, como refletido na recente elevação do núcleo da inflação de serviços. No Chile, por exemplo, a demanda privada por bens recuperou-se rápida e vigorosamente na esteira do apoio fiscal e dos saques nas contas de aposentadoria, seguida por uma recuperação sustentada, mas branda, da demanda privada por serviços, o que contribuiu para o aumento de 6,6% no núcleo da inflação de 12 meses em fevereiro de 2022.
As expectativas de longo prazo continuam bem ancoradas
Após expansão sem precedentes na política monetária para apoiar a economia nos primeiros meses da pandemia, os bancos centrais do AL-5 mudaram rapidamente sua postura quando a inflação começou a subir, muitas vezes elevando os juros acima do previsto pelos participantes do mercado.
O Banco Central do Brasil foi o primeiro a alterar o curso, em março de 2021, exemplo seguido por outros, levando a aumentos cumulativos nas taxas básicas de juros que variaram entre 1,75 e 9,75 pontos percentuais em relação a seus níveis no final de 2020.
Aliadas à credibilidade tão duramente conquistada pelos bancos centrais do AL-5 no combate à inflação, essas medidas mantiveram ancoradas as expectativas inflacionárias de longo prazo, apesar do aumento da inflação. Como apresentado no relatório Perspectivas Econômicas: As Américas de outubro de 2021, os bancos centrais do AL-5 parecem ter atingido um nível de credibilidade acima da média dos bancos centrais de mercados emergentes.
Os bancos centrais precisam ficar atentos e continuar a tomar tempestivamente medidas, quando necessário.