A contração do financiamento atingiu duramente a região
A persistência da inflação mundial e a implementação de políticas monetárias mais restritivas conduziram a custos de financiamento mais elevados nos países da África Subsariana e exerceram maior pressão sobre as taxas de câmbio. Com efeito, nenhum país tem podido emitir uma Eurobond desde a primavera de 2022. Os encargos com juros da dívida pública estão a aumentar devido a uma maior dependência do dispendioso financiamento baseado no mercado, em conjunto com uma redução a longo prazo dos orçamentos de ajuda ao desenvolvimento. A falta de financiamento afeta uma região que já enfrenta elevados desequilíbrios macroeconómicos. A dívida pública e a inflação situam-se em níveis que não se verificavam há décadas, com uma inflação de dois dígitos em metade dos países – o que reduz o poder de compra das famílias e prejudica fortemente os mais vulneráveis. Esta situação travou a recuperação económica. O crescimento na África Subsariana diminuirá para 3,6% este ano. Num ambiente de abrandamento mundial, espera-se que a atividade desacelere pelo segundo ano consecutivo. Ainda assim, este valor global oculta variações significativas em toda a região. A contração do financiamento afetará também as perspetivas a mais longo prazo da região. A escassez de financiamento pode obrigar os países a reduzir os recursos destinados a setores de desenvolvimento críticos, como a saúde, a educação e as infraestruturas, enfraquecendo o potencial de crescimento da região.Fragmentação geoeconómica: África Subsariana presa entre fragilidades
Ao longo das duas últimas décadas, a África Subsariana estabeleceu alianças económicas e comerciais com novos parceiros económicos. Embora a região tenha beneficiado de uma maior integração a nível mundial durante este período, o surgimento da fragmentação geoeconómica expôs potenciais desvantagens. Em comparação com outras regiões, a África Subsariana é a região que mais tem a perder num mundo fortemente fragmentado, podendo, contudo, verificar-se potenciais benefícios se a fragmentação for limitada. É importante que os países se tornem resilientes face às potenciais consequências da fragmentação e se posicionem de modo a beneficiar de potenciais variações nos padrões que regem os fluxos comerciais e de capitais.
Gerir as pressões cambiais na África Subsariana – adaptar-se às novas realidades
Os países da África Subsariana, tal como no resto do mundo, enfrentaram recentemente pressões cambiais significativas, impulsionadas sobretudo por fatores externos, incluindo condições de financiamento mais restritivas e termos de troca adversos, que deverão perdurar. As depreciações cambiais contribuíram para uma maior inflação e dívida pública e deterioraram a balança comercial no curto prazo. No entanto, com as reservas a diminuírem, a maioria dos países sem paridade cambial não tem outra alternativa senão permitir o ajustamento da taxa de câmbio e tornar a política monetária mais restritiva para mitigar o impacto sobre a inflação. Por forma a preservar a estabilidade externa, os países com paridade cambial vêem-se obrigados a ajustar a política monetária em linha com o país da paridade cambial. Em ambos os grupos de países, as consolidações orçamentais podem ajudar a controlar os desequilíbrios externos e a conter o aumento da dívida relacionado com a depreciação cambial.
Colmatar o fosso: A África Subsariana e o financiamento da ação climática em condições concessionais
Apesar de ser a região que menos contribui para as emissões de gases com efeito de estufa, a África Subsariana é a mais vulnerável aos choques relacionados com o clima. Abordar as alterações climáticas será oneroso e poucos países da África Subsariana dispõem dos recursos ou do espaço orçamental necessários para enfrentar este desafio sem a assistência da comunidade internacional. O financiamento em condições concessionais deve ser reforçado para aumentar a resiliência da região às alterações climáticas e ajudar a acelerar a transição para a energia verde. A presente nota explora algumas opções disponíveis, salientando os recursos inexplorados atualmente disponíveis a partir de fundos multilaterais para o clima e destacando, em especial, a procura de novas formas de ligar o financiamento público, privado e em condições concessionais, a fim de aumentar o investimento e colmatar o fosso entre os recursos e as necessidades. Uma parte dos esforços para aumentar o financiamento da ação climática irá exigir medidas destinadas a ultrapassar os obstáculos existentes – nomeadamente por parte dos países beneficiários – a fim de assegurar que os fundos autorizados são utilizados de forma rápida e eficaz.