Viver no limiar
A recuperação da África Subsariana foi subitamente interrompida. No ano passado, a atividade na região começou finalmente a recuperar, tendo o crescimento do PIB em 2021 aumentado para 4,7%. No entanto, o crescimento deverá abrandar em 2022 em mais de 1 ponto percentual, situando-se em 3,6%. De facto, a desaceleração da atividade económica, as condições financeiras mais restritivas e a subida drástica da inflação registadas a nível mundial estão a ter repercussões numa região já afetada por uma série de choques em curso. O aumento dos preços dos produtos alimentares e energéticos está a afetar os mais vulneráveis da região e a dívida pública e a inflação estão a aproximar-se de níveis que já não se verificavam há décadas. Face a este cenário, e com opções limitadas, muitos países são empurrados ainda mais para o limiar. As perspetivas de curto prazo da região são extremamente incertas na medida em que estão intrinsecamente ligadas à evolução da economia mundial e vários países enfrentam situações sociopolítica e de segurança difíceis. Neste contexto desafiante, as autoridades devem enfrentar crises socioeconómicas imediatas à medida que estas surgem, ao mesmo tempo que se esforçam por reduzir as vulnerabilidades a choques futuros, construindo resiliência. Porém, em última análise, a segurança e prosperidade da região exigirão um crescimento de elevada qualidade e a implementação de políticas que irão lançar as bases para uma recuperação sustentável, afastando os países do limiar.Combater a crescente inflação na África Subsariana
A inflação aumentou significativamente nos últimos dois anos, impulsionada, em grande medida, por fatores externos, incluindo os preços mundiais dos produtos alimentares, os preços do petróleo e as perturbações da cadeia de abastecimento. Uma vez que a procura interna desempenhou um papel mais limitado, devido à recuperação lenta, os bancos centrais têm, potencialmente, margem para uma abordagem mais gradual à restritividade da política monetária. No entanto, o ritmo da restritividade deve ser ajustado às alterações das expectativas de inflação, à credibilidade dos quadros de política e à dimensão das pressões cambiais.
Reforçar a segurança alimentar na África Subsariana
As alterações climáticas, os choques dos preços mundiais e as circunstâncias específicas a cada país estão a provocar uma crescente insegurança alimentar na África Subsariana. Em resposta à recente crise, os países recorreram às segundas melhores medidas de política de curto prazo, tais como reduções fiscais e subsídios, que deverão ser gradualmente eliminados. Em termos prospetivos, o aumento da produção agrícola resiliente às alterações climáticas e da produtividade, com o apoio sustentado da comunidade internacional, será fundamental para enfrentar os desafios em matéria de segurança alimentar, lançando ao mesmo tempo as bases para uma maior disponibilidade e acessibilidade financeiras.
Gerir a incerteza dos preços do petróleo e a transição energética
A volatilidade dos preços das matérias-primas constitui um desafio persistente para as políticas orçamentais na África Subsariana, uma vez que as receitas extraordinárias impulsionam as despesas pró-cíclicas. Excedentes orçamentais de até 1% do PIB ao ano permitiriam aos países exportadores de petróleo acumular reservas suficientes para se protegerem contra grandes choques de preços. Além disso, os esforços mundiais para abandonar a dependência dos combustíveis fósseis representam um novo desafio. A região terá de acompanhar cuidadosamente a transição e gerir os custos do ajustamento utilizando cenários orçamentais de médio prazo sólidos e políticas que incentivem o desenvolvimento do setor privado.
Inovações em matéria de moeda digital na África Subsariana
A África Subsariana está a assistir a um rápido desenvolvimento das moedas digitais – novas formas de moeda eletrónica que não exigem transferências físicas de numerário – como o lançamento da eNaira na Nigéria em 2021. Os decisores políticos estão a ponderar os benefícios e os riscos da utilização destes produtos para fornecer serviços financeiros aos seus cidadãos. A presente nota aborda três instrumentos – dinheiro móvel, moedas digitais do banco central (CBDC) e criptomoedas – que podem ser utilizados para liquidar transações e transferir fundos.